Luto patológico: quando a perda vira doença
O luto é um processo normal pelo qual todos nós passamos quando perdemos alguém ou algo importante em nossas vidas. Mas você conhece casos em que a pessoa não consegue superar o luto e os sentimentos a impedem de viver como antes?
Esses casos são chamados de luto patológico ou luto prolongado, e precisam de atenção psicológica profissional. No luto patológico, a dor é como um espiral crescente no interior de uma pessoa, tornando cada ação corriqueira do dia-a-dia mais difícil, com constante sensação de desesperança e falta de consolo.
Para evitar quadros como esses, precisamos quebrar o tabu e começar a falar sobre as perdas e a necessidade de viver o luto de forma mais natural.
Veja a seguir como identificar e lidar com o luto prolongado!
O processo do luto
Segundo a teoria mais clássica e aceita pela academia de psicologia, o luto é um processo natural que abarca questões relacionadas à perda e rompimentos de vínculos em geral. Normalmente relacionamos o luto a apenas a perda de um ente ou amigo querido, mas o fim de um relacionamento, uma demissão, uma perda de possibilidade de futuro, entre outros, também podem gerar esse processo.
A percepção mais aceita do processo de luto é o das 5 fases – negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. São etapas pelas quais todos passamos (independente de quanto tempo demore para passar de uma fase para outra) e que nos ajudam a ressignificar e reorganizar nossas vidas.
A extensão do luto depende também da estrutura emocional de cada pessoa e tentar burlar o processo do luto – e os sentimentos advindos dele – pode tornar a situação ainda mais grave.
Veja também: As 5 fases do luto ou a curva da mudança de Klüber-Ross.
O que é o luto patológico ou prolongado?
No processo habitual do luto, vivencia-se sentimentos de ambivalência entre aceitação e ajuste a uma nova vida sem algo ou alguém que foi perdido. Pode até demorar, afinal, não existe régua de tempo que determine o tempo de duração do luto, mas eventualmente aprendemos a retomar a nossa vida.
O que separa o luto “normal” do luto prolongado são os prejuízos e o sofrimento que ele vai causar na vida do indivíduo.
Antigamente, antes da definição do luto patológico, o paciente poderia receber um diagnóstico de depressão ou reação aguda ao estresse. Hoje, após 10 anos de estudos, o luto prolongado passou a ser considerado um transtorno psiquiátrico e recebe tratamento específico.
O luto patológico pode ser dividido em três tipos. O primeiro é conhecido como luto crônico, que tem duração excessiva e nunca chega a um fim satisfatório. O segundo é o luto retardado ou ausente, que consiste uma reação normal à perda, mas com a impossibilidade de superá-la. Por fim, o luto severo é quando há uma intensificação dos tipos supracitados.
Veja também: O luto durante a pandemia - Um novo entendimento para encarar o processo do luto!
Causas do luto patológico
Os fatores que podem fomentar um luto patológico estão primordialmente ligados a questões que envolvem o relacionamento com quem se foi, como quem era essa pessoa, a natureza da ligação, a forma como ela morreu e história de vida, além da personalidade de quem sofre com o luto.
Além dessas características únicas de cada indivíduo, uma das principais causas da patologia é o adiamento e a negação. Quando o luto não é vivido e sim adiado, as reações imediatas à morte são acionadas de forma tardia através de outros eventos, com uma carga emocional forte o suficiente para desencadear o processo.
Na negação, o enlutado não expressa o que sente, bloqueando tudo e agindo como se nada tivesse acontecido, negando o sofrimento e a dor. Muitos imaginam que, fazendo isso, conseguem deixar os sentimentos de lado, chegando até mesmo a acreditar que a pessoa está ali presente.
Como identificar o luto patológico?
Apesar de não haver um tempo certo para viver o luto, quando ele perdura por mais de um ou dois anos é sinal de que é hora de procurar ajuda psiquiátrica. Conheça alguns dos sintomas do estado patológico do luto.
- Alucinações com a pessoa que se foi;
- Períodos de emoções muito fortes;
- Desejo veemente de que a pessoa volte;
- Negação;
- Perda do interesse por atividades rotineiras;
- Desânimo;
- Solidão intensa;
- Afastamento de tudo que traz a lembrança da pessoa falecida;
- Insônia.
Como mencionamos anteriormente, o diagnóstico de luto patológico pode ser considerado muito recente e pode causar confusão com o diagnóstico de depressão. Por isso é fundamental o acompanhamento médico para reconhecer o quadro e ajudar o paciente a lidar com o luto.
A cura vem com o tempo, por meio da aceitação da perda e da retomada à rotina, do controle das emoções e da nova relação com a morte. O luto precisa ser totalmente resolvido, para que não haja recorrências futuras.
Como viver o luto?
Segundo a psicologia, a vivência do luto é um percurso de adaptação e oscilação. Sendo assim, contraímos na dor e na memória, mas também expandimos na distração e na criação de novos vínculos. O luto não acaba, mas ele também não se resume a tristeza ou saudade. O ideal é ir, aos poucos, ressignificando os sentimentos gerados pela perda.
A percepção estabelece que para viver e encarar o luto, é preciso se permitir sentir e reconhecer os seus sentimentos.
Falar sobre o assunto e entender o que aconteceu, e como esse acontecimento está lhe afetando, é um dos caminhos para a ressignificação dos seus sentimentos. Então, caso você conheça alguém que esteja passando pelo processo do luto, você pode ajudar se colocando à disposição para falar sobre.
E se você não está conseguindo lidar com alguma perda, não tenha receio ou vergonha de buscar ajuda profissional. Reconhecer a necessidade de seguir em frente é o primeiro passo!
Veja também: Terapia do luto - como superar a perda de uma pessoa querida?
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