Tradição e Cultura: Festa da Boa Morte em Cachoeira - BA
Em 2020 a festa de Nossa Senhora da Boa Morte, uma das celebrações religiosas mais importantes da Bahia, completa seus 200 anos de tradição e cultura. Comemorado todos os anos, do dia 13 a 17 de agosto, essa bela e grandiosa celebração chama a atenção de visitantes, fotógrafos e pesquisadores do mundo inteiro.
Normalmente, as ruas de Cachoeira, aqui na Bahia, se enchem de mulheres vestidas com trajes de gala, cortejando a Nossa Senhora da Boa Morte para que ela rogue por nós na hora de nossa morte.
Mas, como a festa é organizada pela Irmandade da Boa Morte, composta por mulheres idosas (grupo de risco para a covid-19), esse ano a festa foi celebrada virtualmente.
E você, já conhecia essa autêntica manifestação cultural da Bahia? Em homenagem aos 200 anos da celebração, a Pax Bahia te convida hoje a entender um pouquinho melhor da origem e das tradicionais celebrações desta festa. Continue com a gente.
A origem da Festa de Boa Morte
Segundo o IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia), a devoção à Nossa Senhora pode ser percebida há muitos anos em todo o ocidente a partir da expansão católica.
Para a crença católica, o título de Nossa Senhora da Boa Morte é dado à Virgem Maria ao fazer a passagem da vida terrena para a vida celestial. As pessoas rezam para que a Nossa Senhora rogue por elas na hora da morte, já que a alma depende da salvação eterna.
O significado da Boa Morte na Bahia
Aqui no Brasil, mais especificamente em Salvador, na Bahia, essa devoção também sofreu influências das religiões afro-brasileiras, e é uma festa exclusivamente feminina negra.
A história da Boa Morte na Bahia ganha outros significados a partir da dolorosa história brasileira: a devoção teve origem na resistência das mulheres africanas pelo fim da escravidão.
As devotas de Nossa Senhora pediam proteção e uma morte tranquila, assim como o fim da escravidão. Depois de alforriadas e livres, as mulheres negras comemoram o dia com comidas e danças na sede da Irmandade.
As culturas cristãs e afro-brasileiras se misturam na comemoração. O cajado, a tocha e o brasão, tidos como símbolos da Boa Morte, são referências à passagem espiritual do Aiyê (terra, mundo físico) ao Orun (mundo espiritual).
A Irmandade da Boa Morte
A Irmandade, como já dito aqui, é composta por mulheres negras idosas e é considerada uma das primeiras irmandades exclusivamente femininas do Brasil. Estima-se que ela tenha sido fundada por volta de 1820, mas infelizmente por conta do desgaste do tempo, incêndios e mudanças de local, a maior parte das escrituras foi perdida.
Ela exerce, desde a época de uma sociedade ainda escravocrata, o papel de um ambiente de resistência e amor ao povo negro. Na Irmandade, as mulheres professavam a religião dominante ao mesmo tempo em que cultuavam e celebravam suas crenças ancestrais.
As celebrações eram, e continuam sendo, caracterizadas por atos litúrgicos com banquetes, muita música e símbolos africanos.
Hoje, Cachoeira é o local para onde a população negra de todo o Brasil recorre em busca de suas origens. A cultura se mantém porque a Festa da Boa Morte é, até hoje, uma representação da resistência feminina negra.
Atos da procissão
Todo ano é feita uma eleição geral para escolher a comissão da festa na Irmandade. São quatro cargos, responsáveis pelos detalhes da celebração: juíza perpétua, provedora, tesoureira e escrivã. Depois da eleição, as irmãs saem pelas ruas de Cachoeira recolhendo verba para a festa.
A seguir, entenda melhor o que acontece em cada dia:
13 de agosto
É celebrada uma missa para as irmãs que já faleceram. Começa o translado do corpo de Nossa Senhora da Boa Morte da Capela de Nossa Senhora D'Ajuda em procissão pelas ruas de Cachoeira.
Elas vão vestidas de branco, em referência a uma boa morte na crença afro-brasileira.
14 de agosto
Missa de corpo presente de Nossa Senhora na Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, e então, a procissão do enterro da Nossa Senhora da Boa Morte pelas principais ruas de Cachoeira.
15 de agosto
No terceiro dia, a procissão sai, ainda pela manhã, da sede da Irmandade carregando flores e o andor de Nossa Senhora da Glória. O dia inicia com fogos de artifício, depois é feita uma missa solene da assunção de Nossa Senhora da Igreja matriz de Nossa Senhora do Rosário. Antes do almoço das irmãs com seus convidados, é feita uma roda de samba no largo D’Ajuda, que se repete mais tarde.
16 de agosto
Às 18h00 é servido um cozido feito com a mistura de verduras e carnes, acompanhado de pirão, e em seguida é feita uma roda de samba no largo D’Ajuda.
Oferecer comida é a equivalência à abundância e prosperidade.
17 de agosto
No último dia, é preparado um Caruru seguido de samba de roda e o encerramento da festa.
No final, as irmãs entregam flores perfumadas às águas.
Preparamos este artigo para homenagear essa bela cultura e esperamos que você tenha aprendido um pouco mais e gostado da leitura. Mas a melhor maneira de conhecer a verdadeira riqueza dessa tradição é fazendo parte dessa experiência. Que tal fazer uma viagem à Cachoeira?
É incrível como as diferentes culturas lidam com a morte e homenageiam aqueles que se foram. Se você está buscando uma maneira de homenagear os seus entes queridos, não deixe de conferir os benefícios de um plano de assistência familiar.
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